O incenso
- Manuella Gazola
- 11 de out. de 2023
- 2 min de leitura
Apareceu outro anjo e colocou-se junto do altar com um incensário de ouro. Deram-lhe muitos perfumes... E pela mão do anjo subiu diante de Deus a fumarada dos perfumes com as orações dos santos.
Assim diz o Apocalipse (8, 3-4).
São verdadeiramente de uma nobre beleza esses grãos claros, colocados sobre carvões ao rubro, que escapam em volutas fragrantes do turíbulo que oscila. É como uma melodia de movimento e aromas, sem fins nem propósitos úteis, como o esbanjamento de um amor que se doa.
Lembra-nos aquela ocasião em que o Senhor estava sentado à mesa em casa de Lázaro, em Betânia, e Maria, a irmã de Lázaro, trouxe um caro perfume de nardo, ungiu os pés de Jesus e enxugou-os com os seus cabelos, e o aroma enchia toda a casa. Uma mente estreita murmurou: Para que semelhante desperdício? Mas o Filho de Deus disse: Deixai-a; ela guardou este perfume para o dia da minha sepultura (Jo 12, 1-7).
Um acontecimento misterioso, em que se juntam a morte, o amor e o sacrifício...
Tudo isto se encontra no incenso: um mistério da beleza que se eleva livremente, sem querer saber de nenhuma utilidade prática; um mistério do amor que arde e se consome e evola morrendo. Também aqui não faltam os corações mesquinhos que perguntam:
"Para que semelhante desperdício?
O incenso é um sacrifício de perfumes formados com as orações dos santos. É o símbolo da oração, principalmente da oração desinteressada, que nada mais deseja senão amar a Deus e dar-lhe graças "porque é tão grande a sua glória".
Não há dúvida de que este símbolo pode desvirtuar-se com facilidade: o fumo perfumado tende
a oprimir alguns espíritos e pode mesmo exacerbar de maneira alucinada o senso religioso de determinadas pessoas.

Nestes casos, a consciência crista recorda-nos com toda a razão que a verdadeira oração deve fazer-se em espírito e verdade (Jo 4, 23).
Mas há também os filisteus religiosos, de espírito mercantil e coração seco, que murmuram como Judas Iscariotes; para esses, a oração não passa de utilitarismo espiritual, e deve manter-se dentro dos limites do burguesmente razoável.
Semelhante disposição de ânimo nada sabe dessa liberalidade real da oração, que quer sempre dar; ignora a alma da oração, que nunca pergunta por que nem para que, e so quer elevar-se porque e amor, aroma e beleza. E quanto mais ama, mais oferece, e do fogo que consome evola-se o aroma.
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